França não, Francisco sim

Antes de tudo, quero dizer que amo a França, especialmente a cultura e a literatura francesas. Kardec, Voltaire, Montaigne, entre tantos, me ensinaram a pensar, a refletir de forma crítica e a buscar novos horizontes de conhecimento. De todos os países europeus, é a França de quem mais me sinto próximo e é o que mais conheço e o que mais desejo conhecer melhor. De todas as Revoluções, a Francesa de 1879 é a que mais me entusiasma e cujo legado proclamo e defendo em todas as ocasiões: Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

 

Assim, foi com profunda tristeza que acompanhei a recente inserção no artigo 34 da Constituição francesa de um dispositivo assegurando o “direito ao aborto”.

 

 

Como assim? Na mesma terra onde foi gestada a luminosa declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, cujo artigo 1º é: “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos”?

 

Ora, os humanos abortados não nascem e, por conseguinte, deixam de ser livres e iguais e são privados de todos os direitos, a começar pelo mais essencial: a vida! Que retrocesso às trevas do absolutismo pré-revolucionário!

Ora, os humanos abortados não nascem e, por conseguinte, deixam de ser livres e iguais e são privados de todos os direitos

 

E que trágica contradição! Afinal, o artigo 66-1 da mesma Carta francesa assegura: “Ninguém pode ser condenado à pena de morte”. E o aborto é a interrupção de uma vida. É, portanto, uma pena de morte, sem julgamento, sem processo, sem acusação e sem defesa.

 

Para os que argumentam que o feto não tem vida ou que não é uma vida humana, recomendo visualizar a computação gráfica, a partir de dados e imagens reais, do premiado jornalista Alexander Tsiaras, colaborador da NASA e da Universidade de Yale, disponível na série Ted Talks: “da Concepção ao Nascimento”. O vídeo, de pouco mais de nove minutos, acompanha toda a evolução da gênese humana, desde a fertilização do óvulo ao momento do parto. Não é religião, é ciência.

 

Infelizmente, a maioria dos franceses, de todas as colorações ideológicas, teve outra compreensão. Desta feita, resta-me pregar para que o exemplo não prospere.

 

Felizmente não estou sozinho e nisso tenho a boa companhia de Francisco, o papa, que por inúmeras vezes tem assumido a defesa dos mais frágeis, indefesos e despossuídos. Francisco defende a vida e os direitos humanos, tanto dos idosos enfermos, como das crianças que sofrem bombardeios nas guerras em curso; tanto dos migrantes desesperados fugindo da fome em botes à deriva nos oceanos, como dos nascituros ameaçados nos próprios úteros que deveriam ser o seu primeiro abrigo e berçário.

 

Há quem combate a pena de morte e se diz humanista, mas defende a ampliação das hipóteses legais de aborto. E há quem condena o aborto, mas defende a pena de morte e menospreza os direitos humanos.

 

Como Francisco, busco ser coerente em defesa da vida, sempre.

 

O vídeo citado está disponível em: https://www.ted.com/talks/alexander_tsiaras_conception_to_birth_visualized?autoplay=true&subtitle=pt-br

 

 

Luiz Henrique Lima é doutor em Planejamento Ambiental, professor e escritor

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