Clube de futebol amador centenário fica sem sede após reintegração de posse em São Paulo

Fonte: Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Após 110 anos de história, o Santa Marina Atlético Clube, de São Paulo, deixou de ter uma sede própria após ação de reintegração de posse nesta quarta-feira (14). O espaço onde o clube funcionava desde 1949, no bairro da Água Branca (Zona Oeste da cidade), foi reintegrado à empresa transnacional Saint-Gobain em ação de reintegração de posse.

A ação, que transcorreu de forma pacífica, foi acompanhada por uma manifestação de pessoas que se uniram em movimento para tentar preservar a sede, onde eram realizadas atividades esportivas e sociais gratuitas para a comunidade local, beneficiando mensalmente mais de 800 pessoas.

Beatriz Calheta, representante da Liga Eduardo Galeano de Futebol de Várzea, foi uma das pessoas que se engajaram no movimento. Em entrevista ao Brasil de Fato logo após a ação de reintegração de posse ela disse que o dia foi de muita emoção.

“Hoje era dia de jogo de futebol de crianças. Quando os oficiais de Justiça chegaram, as crianças choraram muito ao ver aquela situação. Foi uma imagem que emocionou a todo mundo que estava lá”, contou.

Fundado em 1913 pelos operários da extinta vidraçaria Santa Marina, o clube integrava num único espaço os locais de trabalho, moradia, escola e lazer dos operários e suas famílias. Ao longo do tempo, o Santa Marina acumulou o que, atualmente, é um dos maiores acervos históricos sobre esportes, lazer e trabalho do século 20 da cidade de São Paulo, com mais de 2 mil itens.

“Acompanhamos o oficial de Justiça enquanto eles catalogavam tudo. O Museu do Futebol catalogou o acervo, com troféus, fotos e documentos. O oficial detalhou tudo o que tem lá, como campo, prédios”, contou Calheta.

A historiadora do esporte Aira Bonfim também se engajou na tentativa de evitar a reintegração de posse. Em entrevista ao vivo ao programa Central do Brasil desta terça-feira (13), ela falou sobre a importância do clube Santa Marina para a população e a memória da cidade de São Paulo, e as consequências do fechamento desse espaço.

“O Santa Marina é um time de futebol, mas vai muito além disso. Ele atende várias comunidades da região que não têm acesso a lazer, e oferece a experiência do futebol a baixo custo para a população. Além disso, são acolhidas outras equipes de futebol que já perderam os próprios espaços e não possuem recursos para alugar outros locais. São várias camadas de exclusão”, afirma Aira Bonfim, historiadora do esporte.

O caso é um exemplo de como a especulação imobiliária avança sobre espaços de convívio nas grandes cidades.

“Se a gente olha a Água Branca hoje, é um bairro de especulações, com centenas de construções recentes. Não queremos brigar sobre construir ou não, mas sim, um diálogo que inclua os moradores dessa mesma região. Defendemos a tutela de urgência, que já foi conquistada em 2021, para manter esse que é um espaço de memória preservada voluntariamente, ao longo de tantas décadas”, pontua Aira.

Para conferir a entrevista completa, basta assistir ao programa Central do Brasil desta terça-feira (13).

Assista ao programa completo

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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