Tradição de presépios começam a ganhar forma em casas na baixada cuiabana

O presépio é uma pequena obra, geralmente feita de madeira, barro, louça ou outros materiais, para representar o momento do nascimento de Jesus, na cidade de Belém.

A representação normalmente conta com imagens de Maria, José e o Menino Jesus em uma manjedoura, onde ele foi aconchegado ao nascer. As representações também trazem os animais que estavam no estábulo durante o nascimento, como a vaca, o carneiro, e o jegue que transportou o casal até o local.

Os presépios se originaram em 1223, através de uma pregação feita por São Francisco de Assis. O Santo criou uma forma teatral para mostrar às pessoas como teria acontecido o nascimento de Jesus. Com autorização do papa da época, ele construiu um cenário vivo, impressionando a todos que viram a cena.

A partir da encenação, as pessoas que assistiram ao teatro começaram a adotar o costume de recriar o nascimento de Jesus dentro de suas casas. A ação foi rapidamente difundida por toda a Europa, normalmente pelas famílias mais nobres em razão dos altos custos.

A tradição segue viva até hoje entre os cristãos e hoje em dia podemos encontrar presépios de todas as formas, tamanhos e materiais. Cada pessoa também monta sua obra de acordo com a sua interpretação do momento. As montagens geralmente se iniciam no começo do mês de Dezembro – ou até antes – para que o presépio esteja pronto no dia do Natal.

Sandra Antunes confecciona presépios há 33 anos e, desde que começou, nunca deixou de fazer a montagem. Ela conta que já teve peças de vários tamanhos e presépios dos mais simples aos mais elaborados. A corretora e artesã, inclusive, já confeccionou casinhas de madeira, trabalhos com pedras e gruta e presépio de cimento.

A mãe de Sandra sempre trabalhou com a confecção de presépios, então a tradição passou para toda a família. “Eu cresci esperando aquele dia, com toda aquela magia que o presépio tem, o significado dele […] Aquilo trazia um sentido real do Natal, que é o nascimento de Jesus”.

A corretora de imóveis conta que ela e os irmãos também ajudavam a mãe com as representações. “Quando ela falava ‘vou fazer o presépio’ todos nós corríamos e ficávamos em volta”, conta a corretora de imóveis. Hoje em dia, os sete irmãos confeccionam a representação em suas próprias casas.

A inspiração na mãe não é exagero. Dona Zenaide, mãe de Sandra, já chegou a ganhar um concurso realizado pela Prefeitura de Cuiabá. O projeto “Cuiabá Terra Natal” realizou um concurso de presépios. Dona Zenaide ganhou o concurso e recebeu uma viagem para a Itália como premiação.

Esse ano, mais uma vez a criatividade veio à tona. Sandra preparou a obra na parede, como se fosse um painel. “Parece que o Natal sem o presépio não é Natal. Eu posso ter uma árvore, eu posso ter vários arranjos de natal. Se eu colocar só isso pra mim é como se não fosse Natal, tem que ter presépio”, conta.

A representação ainda traz um sentimento de paz e tranquilidade para dentro do lar. “É muito gostoso você toda noite no mês de dezembro você olha aquilo ali. Ai eu coloco cascata. Uma água correndo, uma iluminação bonita. Uma estrela, simbolizando a estrela que guiou os reis.”, enfatiza a artesã.

Antunes já chegou a realizar trabalhos externos também. “Aqui em Cuiabá teve um ano que eu fiz sete presépios, nas sete igrejas. E mais o meu ainda”, conta orgulhosa. Ela reforça que essa confecção todos os anos é como se fosse um compromisso de mostrar pra pessoas e para os dois filhos a importância que Jesus teve.

A tradição da montagem também foi passada na família de Flores Terezinha de Jesus, professora. Ela conta que antigamente era comum as pessoas visitarem as casas que tinham presépios. “Em Cuiabá havia a tradição de ‘correr presépio’. Momento em que as famílias visitavam as casas onde tinham os presépios, até esperar a missa do galo.”, relembra.

Na família de dona Flores a tradição começou com os avós, dona Marcelina Maria e senhor Amâncio Pedroso. “Era um evento religioso que envolvia toda família, inicialmente filhos e depois os netos.”, lembra a professora falando que cada um tinha uma função com a representação.

Ela conta que os tios tinham funções variadas. O tio mais velho era o responsável por fazer a base em madeira e trazer toda a folhagem para a decoração, que tinha que estar sempre verde, o que necessitava de renovação. Mais dois tios confeccionavam as figuras em argila, o que dava movimentos nos braços e cabeças das imagens. Os outros tios tinham outras atividades, como providenciar comidas para serem servidos aos visitantes da representação.

Já a função dela e dos primos era bem importante no ‘correr presépio’. “Nós, os netos, ficávamos na parte de baixo da base para puxar as cordinhas que dariam movimentos as figuras”, relembra Flores.

Ela conta que com a morte dos avós, a tradição foi levada pela única filha mulher do casal, com a ajuda de outro filho. “Carmosina Maria de Jesus prosseguiu com a ajuda dos seu irmão Romualdo e deram continuidade ao presépio. As imagens de Jesus, Maria, José e dos Reis magos sempre foram do oratório da família”, diz a professora.

Flores Terezinha fala que com o falecimento dos avós, o presépio da família não teve mais o mesmo tamanho e nem tanta perfeição, mas que o mais importante foi mantido: a fé. “Foi com tristeza que vi a transformação do significado do presépio ser substituído pelo encanto dos presentes do papai Noel.”, desabafa a professora.

Mas mesmo com toda a transformação do natal, Flores Terezinha ainda mantém viva a tradição da família. “Com o passar do tempo passei a ajudar a manter firme, não só uma tradição da minha família, como também a devoção de muitos Cuiabanos”, relata.

Atualmente a professora continua a confecção do presépio. Ela ainda tem o apoio do filho, de uma irmã e de um sobrinho.

 

CAROLINA ANDREANI

Gazeta Digital

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