Quando O Dinheiro Público Serve Mais à Vitrine Do Que Ao Povo

Foto: Assessoria de Imprensa

Com informação: estadaomatogrosso

A agricultura familiar, como é amplamente reconhecido, desempenha um papel fundamental na produção de alimentos que chegam às mesas dos brasileiros. No entanto, em Mato Grosso, as políticas públicas destinadas a esse setor vital continuam a enfrentar sérios problemas, como a falta de recursos orçamentários, a descontinuidade e, pior ainda, a má gestão. Um exemplo disso é a recente resposta da EMPAER (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural) a um requerimento parlamentar que eu apresentei. Nos municípios de Poconé, Barão de Melgaço e Nossa Senhora do Livramento, a empresa informou ter atendido, respectivamente, 135, 103 e 177 famílias por meio de iniciativas como capacitações, hortas comunitárias e incentivo a quintais produtivos. Embora essas ações sejam importantes, elas são extremamente modestas em relação às necessidades locais, e a situação se torna ainda mais preocupante quando comparada aos gastos institucionais da própria EMPAER.

De acordo com a empresa, um único evento técnico de integração custou mais de meio milhão de reais aos cofres públicos. Isso inclui R$ 210 mil em diárias, R$ 46 mil em coffee break para 400 pessoas durante dois dias, R$ 237 mil em infraestrutura (salas, som, iluminação e decoração), além de despesas com camisetas, chapéus, combustível e duas palestras. Embora se afirme que itens como jantar, banda e bebidas não foram custeados com recursos públicos, os valores apresentados são impressionantes, especialmente diante da precariedade do atendimento aos agricultores familiares.

É aqui que surge o problema central: não se trata apenas de gastos, mas da eficácia social desses investimentos. O que justifica a destinação de centenas de milhares de reais a um evento institucional enquanto a assistência técnica real no campo é escassa, pontual e sem metas de impacto? Que política pública se fortalece com chapéus personalizados, mas não assegura a comercialização digna da produção familiar? Essa prática recorrente em várias esferas do poder revela uma lógica distorcida, em que o dinheiro público parece servir mais à imagem das instituições do que ao povo que deveria ser o verdadeiro beneficiário. Não se trata de desvio formal, mas de um desvio ético: a má gestão do erário, ou seja, o uso ineficiente e injustificável de recursos que deveriam ser alocados para promover a transformação social.

A extensão rural é uma estratégia crucial. Contudo, para ser efetiva, ela precisa ir além da mera simbologia e operar com planejamento, metas, avaliação de impacto e transparência. A agricultura familiar não pode mais ser atendida por políticas superficiais — ela precisa ser sustentada por uma política verdadeira.

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