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Com informação: gazetadigital
Historicamente dominada por homens, a Construção Civil está passando por uma transformação significativa. Cada vez mais, as mulheres estão conquistando espaço nesse setor, assumindo funções que vão desde engenharia e arquitetura até a execução de obras e gestão de projetos. Esse avanço não apenas reflete uma mudança cultural, mas também evidencia a valorização da diversidade e do talento feminino na área. Nos últimos 10 anos, a participação feminina no setor cresceu 120%, conforme dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora esse progresso seja notável, a presença feminina ainda é limitada, especialmente nos canteiros de obras. Os números mostram um cenário em evolução. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) aponta que as mulheres representam 2,5% da força de trabalho no setor.
No entanto, no Centro-Oeste, essa participação sobe para 5,6%, refletindo um avanço significativo em relação à média nacional. Embora o caminho para uma maior equidade ainda apresente desafios, já é possível notar sinais claros de mudança e crescimento. Apesar de a arquitetura ser frequentemente vista como um campo mais acessível às mulheres, a realidade nos canteiros de obra é diferente. A arquiteta Rafaela Freitas compartilha sua experiência ao enfrentar desafios no cotidiano da profissão. “Muitas vezes, os colaboradores não escutam ou respeitam quando uma mulher designa uma tarefa. Isso é desconfortável, pois nos faz sentir inferiores. Mas, com o tempo, as coisas se ajustam”, relata. Apesar das dificuldades, Rafaela conseguiu conquistar seu espaço e o respeito dentro de um ambiente majoritariamente masculino. “Já fui a única mulher em uma obra com mais de 80 colaboradores.
No começo, há olhares e comentários, mas quando se impõe uma postura profissional e não se permite brincadeiras inadequadas, tudo se torna mais fácil”, afirma. A presença feminina na construção civil tem trazido novas abordagens e melhorias ao setor. Além de sua alta capacidade técnica, as mulheres se destacam por características como organização, atenção aos detalhes e habilidades de comunicação, qualidades essenciais tanto na gestão de projetos quanto na execução das obras. A engenheira civil Sara Campos também enfrentou desafios no início de sua carreira. “Durante o estágio, fui demitida pelo engenheiro-chefe porque ele presumiu que, por ser mulher, eu não gostaria de ir a campo. Ele nem sequer perguntou sobre minhas preferências. Isso me desmotivou, mas não deixei que me impedisse de seguir em frente”, conta. Determinada, Sara buscou novas oportunidades e encontrou seu lugar na construção civil. “Entrei em uma construtora e comecei a trabalhar diretamente em obras. Foi ali que me apaixonei pela minha profissão e aprendi a não deixar que homens na construção civil me diminuíssem.”
Além das barreiras impostas pelo ambiente predominantemente masculino, há também desafios relacionados à valorização da profissão. A arquiteta cuiabana, Ana Gomes, destaca uma questão importante enfrentada pelos profissionais do setor: a resistência da sociedade em reconhecer o valor do trabalho na arquitetura, engenharia e construção civil. “A sociedade, de certa forma, tem uma resistência em valorizar nosso trabalho e na contratação desses serviços. Muitas vezes, querem definir um preço para o que fazemos sem antes entender como funciona o processo. No início, eu não sabia lidar com isso e me fazia duvidar da minha capacidade. Internalizava esses questionamentos e não conseguia abrir-me sobre o assunto. Hoje, entendo que cada pessoa tem uma vivência diferente e que nem todos têm as mesmas oportunidades devido às suas realidades distintas”, afirma Ana. A trajetória de Fernanda Trevisol é um exemplo claro do crescimento da presença feminina na construção civil.
Gestora de obras da MRV, do grupo MRV&CO em Mato Grosso, a engenheira começou como estagiária na empresa em 2011. Ao longo de uma década, percorreu todos os degraus hierárquicos até chegar a um cargo de gestão na regional. “A construção civil sempre foi vista como um ambiente masculinizado, mas minha experiência demonstrou que competência e resultados são os fatores que realmente importam”, afirma Fernanda. Para ela, a presença feminina não só amplia a diversidade de perspectivas no setor, mas também contribui com novas metodologias de trabalho, essenciais para a evolução da área. Para aquelas que têm paixão por exatas e estão em dúvida sobre seguir a carreira, Fernanda deixa um conselho: “O conhecimento técnico e a experiência são mais importantes do que qualquer preconceito. Invista no aprendizado contínuo e torne-se uma referência na sua área. Acredite no seu potencial e não se limite pelos estereótipos.” Com competência e determinação, elas continuam quebrando barreiras e mostrando que o setor pode – e deve – ser um ambiente de igualdade e oportunidades para todos.