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DO UOL VIVABEM
“Não sei ao certo como peguei, mas foi pelo uso indevido da lente de contato. Aquela falta de cuidado, de dormir com a lente, lavar de um modo errado. Estou pagando um preço caro. Vocês não fazem ideia da dor. Eu tomo morfina de 3 em 3 horas e não passa. Minha vida parou.”
Foi assim que Nicole Géo contou como pegou um parasita que come córnea, em 2021. No vídeo publicado no TikTok, a cirurgiã dentista de Belo Horizonte (MG) compartilhou sua história para alertar usuários de lente.
“Quem tem conhecido que usa lente de contato, alerte. Se eu puder ajudar uma pessoa a não viver o que eu vivi, já é maravilhoso. Eu parei minha vida por quase dois anos”, disse ela em outra publicação na rede social.
O parasita em questão é o protozoário Acanthamoeba spp. Ele é encontrado em ambientes aquáticos variados, como água doce, piscinas, banheiras e até na água da torneira. Como ele se alimenta de proteínas, costuma aderir às lentes de contato e depois “passar” para a córnea, a camada transparente que protege os olhos.
Os sintomas incluem dor intensa, vermelhidão, fotofobia (sensibilidade à luz), visão turva, sensação de corpo estranho e lacrimejamento excessivo.
É uma dor fora do normal, eu vivia dopada. A dor irradia para a cabeça inteira. Eu ia até fazer cirurgia para ‘desligar’ o lado esquerdo do meu rosto para sempre, para eu parar de sentir dor, mas minha médica não deixou. Passei por inúmeras cirurgias e até hoje não enxergo do olho esquerdo.
Nicole conta que suspeitou que havia algo de errado quando começou a sentir uma dor muito forte. Ela foi ao médico, mas não havia nada visível. Em 15 dias, o olho ficou vermelho e ela já não conseguia enxergar.
“Recebi diversos tratamentos, incluindo remédios para dor e colírios, mas cada dia apresentava novos diagnósticos e problemas, agravando ainda mais a situação. Deparei-me com a pior versão de mim mesma, sem perspectiva de cura”, disse em um dos vídeos.
O primeiro transplante de córnea trouxe alívio, mas novas consequências da doença surgiram. Ela fez mais de 20 cirurgias e um novo transplante. Agora, está na fila para um terceiro.
Complicações são graves
O diagnóstico precoce e o tratamento são cruciais para evitar complicações graves, que podem incluir a necessidade de transplante de córnea ou até mesmo a perda da visão.
“As complicações possíveis de uma infecção por Acanthamoeba incluem cicatrizes na córnea, perda de visão e até mesmo cegueira”, alerta Laura Cunha, oftalmologista da Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha.
O tratamento é prolongado e pode incluir o uso de colírios específicos, analgésicos orais e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos, como o transplante de córnea. A colaboração entre oftalmologistas e outros especialistas médicos, como infectologistas e microbiologistas, é essencial para o sucesso do tratamento.
Como se prevenir
“É importante seguir algumas medidas de precaução, como evitar o uso de lentes de contato durante atividades aquáticas, usar soluções adequadas para limpeza e desinfecção das lentes de contato, evitar o contato direto dos olhos com água não tratada ou contaminada, e adotar boas práticas de higiene ocular, como lavar as mãos antes de tocar nos olhos”, diz Roberto Anbar, oftalmologista credenciado Omint.
De acordo com André Ruppert, oftalmologista especialista em córnea e cirurgia refrativa do Hospital Japonês Santa Cruz, algumas dicas para proteger a saúde ocular e evitar infecções são:
Lave as mãos regularmente;
Use óculos de proteção na piscina, ou seja, evite o contato dos olhos com água não tratada;
Siga as orientações de higiene das lentes de contato: não durma com elas, substitua-as de acordo com as orientações.;
Evite compartilhar itens pessoais para os olhos;
Faça exames oculares regulares.
Manter consultas regulares com um oftalmologista e buscar atendimento imediato ao notar qualquer sintoma anormal também são passos importantes para a saúde ocular.
Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2024/03/13/acanthamoeba.htm