O cenário dos impactos à saúde mental de adolescentes, principalmente durante a pandemia da covid-19, movimentou os 78 municípios de Mato Grosso que fazem parte do Selo UNICEF, edição 2021-2024, para identificarem as principais demandas e necessidades na área da saúde mental dos adolescentes. O trabalho durou cerca de cinco meses, onde os envolvidos mapearam equipamentos, projetos e recursos humanos de promoção à saúde.
A ação integra um conjunto de estratégias do Selo UNICEF, edição 2021-2024, que visa melhorar os indicadores sociais ligados às infâncias e adolescências. Até o momento, 53 municípios concluíram o processo, criando o fluxo de atendimento à saúde mental para adolescentes. A pesquisa norteará a implantação do serviço psicossocial especializado até 31 de dezembro deste ano.
Em agosto de 2022, estudantes entre 11 e 19 anos ouvidos durante a pesquisa do Fundo das Nações Unidas pela infância (UNICEF), em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), afirmaram que é necessário que a escola ofereça atendimento de profissionais para apoio psicológico (80%), e espaços em que eles possam falar sobre os sentimentos (74%). Segundo os entrevistados, no entanto, esses dois itens nos três meses que antecederam a pesquisa, só foram oferecidos por 39% e 43% das escolas, respectivamente.
A psicóloga e Mestra em educação, Alessandra Xavier, da Universidade Estadual do Ceará, consultora responsável pela criação dos documentos auxiliares e formação das equipes técnicas dos municípios, para a criação dos fluxos em saúde mental no Selo UNICEF, reafirma que o papel da escola é fundamental no fortalecimento do bem-estar psicológico de meninos e meninas.
“O ambiente escolar precisa ser acolhedor e oferecer proteção, recursos de fortalecimento da autoestima e de confiança na capacidade de resolver problemas”, declarou a consultora durante a primeira aula virtual de construção do fluxo de saúde mental em junho de 2022.
Mobilização intersetorial pela saúde mental
O trabalho de construção do fluxo de saúde mental envolveu diversos profissionais das secretarias de saúde, educação e assistência social em Nova Xavantina. O desenvolvimento desta política pública em rede já trouxe resultados valiosos para o município que tem acompanhado com muita atenção esta demanda.
Segundo a psicóloga do CAPS, Fabrícia Galindo, durante um ano, entre o final do primeiro semestre de 2021 e o início do segundo semestre de 2022, a demanda aumentou em dois momentos importantes.
“Foram realizados 215 atendimentos de adolescentes neste período. Nós observamos que houve um aumento na demanda durante a campanha do setembro amarelo de 2021 e em março de 2022 quando ocorreu o retorno do ano letivo presencial”, disse Galindo.
Outro município que também construiu recentemente seu fluxo de atendimento à saúde mental de adolescentes foi Figueirópolis d’Oeste. Segundo o psicólogo Leonardo Oliveira, “a atenção em saúde mental existia, porém não era realizada de forma intersetorial – e o selo UNICEF traz essa possibilidade de integração dos setores em prol das crianças e adolescentes”.
De modo especial, neste mês em que se celebra o Setembro Amarelo, a gestão municipal investiu na campanha de promoção à saúde mental nas escolas. No dia 23 de setembro, foram realizadas duas palestras com todos os alunos da Escola Estadual Barão de Melgaço.
O evento “A Vida é a Melhor Escolha” teve como temática a conscientização sobre o suicídio e a importância de pedir ajuda, além disso, foi abordado sobre primeiros socorros emocionais e estratégias de como prevenir o suicídio e lidar com momentos tristes e de incertezas.
Adolescentes e a saúde mental
A adolescente Mariana Bairros, de 16 anos, participa do Núcleo de Cidadania de Adolescentes do município de Nova Xavantina. Ela relata que se preocupa com o aumento de suicídios entre adolescentes e jovens. Por isso, busca manter-se informada sobre o assunto por meio de palestras, rodas de conversa e caminhadas que ocorrem no município sobre o tema.
“A partir das iniciativas em que participei como adolescente do NUCA, eu pude perceber o quão importante é estar informado sobre saúde mental, depressão, ansiedade e suicídio, pois só com informação poderemos saber o que fazer e com quem contar quando estivermos passando por essas situações e até mesmo ajudar nossos amigos. Esses ensinamentos podem salvar vidas”, declarou a adolescente.
Selo UNICEF
O Selo UNICEF é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para estimular e reconhecer avanços reais e positivos na promoção, realização e garantia dos direitos de crianças e adolescentes em municípios do Semiárido e da Amazônia Legal brasileira. Nesta edição, a saúde mental de crianças e adolescentes é um dos temas a serem trabalhados pelos municípios que aderiram à estratégia.
Para acompanhar as ações do Selo UNICEF: www.selounicef.org.br