Assassinadas na frente dos filhos, em discussões ou agredidas até a morte pelos companheiros que não aceitavam o fim do relacionamento, foram algumas das motivações dos feminicídios que marcaram 2022, em Mato Grosso. Um dia antes de ser encontrada morta no aterro sanitário de Colniza (a 1.090 km de Cuiabá), Ângela Rocha Pereira, de 23 anos, foi filmada gritando por socorro.
O marido dela, o empresário Abinadab Costa Moraes, foi preso em 29 de abril, em Várzea Grande. A suspeita era de que Abinadab estava recebendo ajuda para fugir para os Estados Unidos, onde moravam familiares.
Ângela foi esfaqueada até a morte, totalizando 14 golpes. No momento do feminicídio, a filha de um ano do casal estava na casa. A criança foi levada com ele durante a fuga, mas foi deixada na casa de uma tia.
O crime teve requintes de crueldade, já que a vítima estava com parte do corpo queimado quando foi encontrada no lixão. No vídeo da briga era possível ouvir o casal discutindo. A vítima fica em silêncio antes de barulhos altos de pancadas serem gravados.
Em seguida, Ângela volta a gritar desesperadamente. A suspeita é de que logo após a discussão, Abinadab tenha esfaqueado a mulher até a morte e deixado o corpo no aterro sanitário da cidade. Ele chegou a trabalhar normalmente no mercado que tinha na cidade por algumas horas após matar Ângela.
Angêla foi esfaqueada até a morte pelo marido, Abinadab Costa Moraes, que gravou áudio dizendo ter “feito besteira”. (Foto: Reprodução)
Em áudio que circulou em grupos de Whatsapp de Colniza, Abinadab descrevia a noite do feminicídio a afirmava ter “feito besteira”. O marido de Ângela narrou a discussão e disse que ela teria “dado uns tapas” na cara dele em determinado momento da briga.
“Ela foi no mercadinho, quebrou notebook meu de venda, quebrou impressora, tentou quebrar as câmeras. Ficou doida, alucinada. Segurei ela, falei ‘cara, para’. Segurei ela e joguei ela no chão. Ela falou ‘juro para você que vou parar’. Ela me deu um empurrão, saiu correndo para a área e falou que ia se matar. Bateu a faca nela. Veio com a faca para cima de mim, foi onde acho que fiquei doido. Fiz besteira”, diz o suspeito na gravação.
Na época, o delegado responsável pelo caso, Bruno França, chamou atenção para o desrespeito com que Abinadab falava sobre a esposa.
“Repara o desrespeito com a vítima, alegando que se esfaqueou. O cara fala rindo do caso. Pedimos apoio da população com qualquer informação para realizar a prisão e trazer o mínimo de sentimento de Justiça para a família”, afirmou França.
Servidora pública assassinada na saída de festa
Na madrugada de 26 de junho, a servidora pública Lailse Monique da Silva Carmo, de 33 anos, foi morta com três tiros na saída de uma boate de Poconé (a 100 km de Cuiabá). O principal suspeito do crime era o ex-namorado de Lailse, que chegou a tentar se matar com a mesma arma após ser encontrado pelos policiais.
De acordo com a Polícia Civil, o homem não aceitava o fim do relacionamento. Ele teria pedido para falar com Lailse quando ela estava saindo do evento. A servidora atuava no Departamento Municipal de Recursos Humanos e no Departamento Municipal de Tributos de Poconé
Lailse já estava morta quando as equipes de resgate chegaram na boate. Os PMs realizaram buscas e encontraram o suspeito dentro de uma quitinete com uma arma de fogo. O homem de 37 anos ameaçou se matar a todo momento e os policiais precisaram convencê-lo a se entregar.
Professora encontrada morta em casa
A professora Valérie Petronetto, de 48 anos, foi encontrada morta na manhã de 13 de dezembro, na casa onde morava com o namorado Bruno dos Santos Diesel, de 26, em Lucas do Rio Verde (a 334 km de Cuiabá). O suspeito usou uma garrafa para agredir a professora até a morte em 10 de dezembro.
Ele continuou frequentando a casa, mesmo com o corpo da vítima no local. Bruno ainda usou o cartão de Valérie para comprar bebidas alcoólicas. Quando o cheiro do cadáver em decomposição começou a incomodar, colocou o cadáver em um dos quartos da residência, de acordo com informações da Polícia Civil.
No dia em que o corpo da professora foi encontrado, Bruno saiu do imóvel com o carro que era utilizado pelos dois. O veículo foi localizado na rodoviária de Lucas do Rio Verde, indicando a fuga do suspeito.
Valérie foi morta pelo namorado, com quem morava na mesma casa em Lucas do Rio Verde. (Foto: Redes sociais)
Ele foi preso em Dourados (MS), onde pretendia pegar um ônibus para o Paraná. No corpo da professora foram encontradas fraturas no rosto, marcas de dentes e facadas. A irmã de Valérie contou que ela tinha diagnóstico de depressão, bipolaridade e borderline.
Para Vanessa Petronetto, Bruno se aproveitava do psicológico frágil da irmã, que desenvolveu uma dependência emocional. Os dois se conheceram em uma clínica, onde Valérie foi internada pela família para tratamento de depressão. Vanessa contou que, 13 dias antes da irmã deixar o local, eles começaram a se relacionar.
Valérie foi encontrada sem vida na casa onde morava com o suspeito, em Lucas do Rio Verde (a 334 km de Cuiabá), nessa terça-feira (13). Vanessa, o irmão e a mãe moram em Várzea Grande, onde a professora será enterrada na tarde desta quarta-feira (14).
Marido matou esposa e foi morto por enteado
Um dia depois do Natal, em 26 de dezembro, Genésia Maria Pereira, de 52 anos, foi morta com um tiro de espingarda de pressão disparado pelo marido Leodir Evelásio de Almeida, de 58, no bairro 15 de Maio, em Várzea Grande.
Depois de cometer o crime, Leodir fugiu do local de bicicleta, mas foi encontrado por um dos filhos da vítima no bairro Vitória Régia, também em Várzea Grande. Alderi Junior Pereira Quebim, de 25, atropelou, agrediu e esfaqueou Leodir.
Segundo informações confirmadas pelo advogado Rodrigo Pouso, após se apresentar o jovem deixou a Delegacia e deve aguardar a conclusão do inquérito policial em casa. A expectativa da defesa é que Alderi seja ouvido pelo delegado e responda em liberdade, mas ainda há a necessidade de aguardar quais crimes serão apontados pelo inquérito policial.
Apesar dos ferimentos, Leodir foi socorrido com vida e levado para o Pronto Socorro de Várzea Grande. Ainda na unidade de saúde, ele passou por cirurgia, mas não resistiu e morreu no dia seguinte.
Genésia tinha oito filhos, sendo que uma das filhas, de 32 anos, tem síndrome de Down e estava na casa no momento do feminicídio. As brigas entre o casal eram frequentes e costumavam ser ainda mais intensas quando os dois ingeriram bebida alcoólica.