Foto: Mayke Toscano/Secom-MT
Com foco no uso de geotecnologias, o evento reuniu representantes de órgãos públicos de defesa ambiental, instituições de pesquisa, universidades e organizações não-governamentais. A troca de informações sobre o uso de ferramentas tecnológicas para monitoramento e combate a incêndios no Pantanal foi um dos principais pontos da programação.
De acordo com dados do MapBiomas, o Pantanal tem enfrentado uma perda crescente de vegetação nativa, especialmente no planalto, onde nascem o rio Paraguai e seus afluentes. Entre 1985 e 2023, 41% da vegetação nativa da região foi perdida no planalto, enquanto na planície a perda foi de 12%. Esse desmatamento tem impacto direto nas condições do bioma e, consequentemente, no aumento das queimadas.
Além disso, as chuvas têm diminuído nos últimos anos, o que resultou em uma redução de 61% da área inundada no Pantanal desde 1985. A diminuição das inundações torna a vegetação mais seca e vulnerável ao fogo. “Quando o rio Paraguai não transborda, o restante da planície não alaga, o que deixa a vegetação ainda mais suscetível ao fogo”, explica Eduardo Rosa, do MapBiomas.
O comportamento do fogo no Pantanal tem mudado. Anteriormente, os incêndios ocorriam mais nas áreas de campo alagado e formações campestres, localizadas mais a leste do bioma. Agora, o foco das queimadas está se concentrando em áreas ao redor do rio Paraguai, como savanas e florestas que, tradicionalmente, eram permanentemente alagadas e são menos adaptadas ao fogo.
Em 2024, a área queimada no Pantanal atingiu 1,8 milhão de hectares, com picos nos meses de agosto e setembro, quando mais de 6.000 focos de incêndio foram registrados. Bruno Blanco, do Prevfogo/Ibama, descreveu o cenário como “caótico”, ressaltando que as condições extremas de calor, seca e alta quantidade de matéria orgânica dificultam o combate aos incêndios. “O fogo está se comportando de maneira mais imprevisível, o que torna as operações de combate muito mais desafiadoras”, afirmou.
O uso de geotecnologias tem sido uma ferramenta essencial para os brigadistas e equipes de campo. Essas tecnologias auxiliam no mapeamento de áreas de risco, monitoramento de focos de incêndio e previsão do comportamento do fogo, o que permite ações mais estratégicas e eficazes no combate aos incêndios. Bruno Blanco enfatizou a importância de uma ação integrada entre diferentes instituições e a sociedade. “Cerca de 90% dos incêndios registrados no Pantanal começam por meio de denúncias da população”, afirmou.
Durante o simpósio, foram apresentados casos de sucesso no uso de geotecnologias, incluindo um estudo sobre a influência das condições meteorológicas no comportamento do fogo em Portugal, que pode ser adaptado ao contexto pantaneiro para melhorar as previsões de incêndios.
João Vila, pesquisador da Embrapa e um dos organizadores do evento, destacou a evolução das geotecnologias desde o início do simpósio, em 2006. “Hoje, essas ferramentas são amplamente utilizadas por órgãos públicos, universidades e centros de pesquisa, mas ainda precisamos de mais dedicação à pesquisa e inovação tecnológica para enfrentar os desafios crescentes”, afirmou.
O evento contou com a participação de 130 pessoas e a apresentação de 93 trabalhos técnico-científicos. Foram abordados temas como o monitoramento de inundações e a previsão de risco de incêndios. O simpósio também promoveu um curso com módulos sobre o uso de geotecnologias para diversas demandas do Pantanal.
Com o aumento das queimadas e a intensificação das mudanças climáticas, especialistas destacam a importância de continuar avançando na pesquisa e no uso de tecnologias para preservar o Pantanal, um dos maiores e mais biodiversos ecossistemas alagados do mundo.