Médicos denunciam caos na Saúde de Cuiabá e morte

Médicos que atuam em unidades de Saúde de Cuiabá denunciaram o que classificam como “caos” em UPAs e PSFs. Os servidores, que tiveram as identidades preservadas, afirmaram que medicamentos básicos sempre estão em falta e até mortes de pacientes foram causadas por isso. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que está apurando as denúncias e também as “condutas e posturas de profissionais”.

Em áudios encaminhados ao , uma das médicas afirma que do início da pandemia até agora a situação piorou muito. Segundo ela, há falta de medicamentos, materiais e até procedimentos básicos que deveriam ocorrer dentro de um hospital não estão sendo realizados.

“É bem caótica a situação […] dentro da terapia intensiva esses medicamentos são essenciais para salvar a vida de um paciente muitas vezes, e vários óbitos foram relacionados a essa falta ou a complicações relacionadas a essa falta. Tenho pacientes que precisavam simplesmente de medicamentos para pressão, estava com a pressão muito alta, tiveram colapso cardíaco”.

Um outro médico comparou a estrutura da UPA do Verdão com a de Várzea Grande que, segundo ele, são similares. Disse que a diferença é gritante.

“A do Verdão é nova. Abriu recentemente então está nova, só que a diferença da farmácia é absurda. É uma diferença muito grande, não tem nem o que discutir, lá tem 6 tipos de antibióticos, todos analgésicos, todos anti-inflamatórios, tem em grande quantidade […] em Cuiabá não tem nada”.

Outra médica afirmou que medicamentos básicos como AAS e dipirona faltam com frequência, mas também medicamentos importantes para o tratamento de pacientes com diabetes.

“Da questão da saúde da família, que é a atenção primária, falta tudo. Medicamentos básicos para tratar hipertensão e diabetes, muitas vezes não tem. Dipirona comprimido, medicação para diarreia e vômito, são coisas, assim, básicas mesmo, ataduras, gaze, material para fazer curativo falta, sempre falta […] já aconteceu com um paciente com tromboembolismo pulmonar que precisava de anticoagulante na UPA e não tinha”.

Uma das denunciantes disse que possui vários pacientes com pressão alta que não estão recebendo o tratamento adequado por falta de medicamentos. Ela alertou que isso “vai levando a AVC, vai levando às perdas de membros”.

“A gente tem uma farmacinha básica em cada PSF, e nessa farmacinha temos um formulário para solicitar a medicação, tem 175 itens a nossa farmacinha básica que a própria prefeitura prescreve como itens básicos, eu fui lá, olhei, contei tudo o que tem e deu 26 itens que a gente tem”, explicou.

Ela também relatou um caso de morte de paciente e afirmou que durante sua carreira nunca viu a Saúde em Cuiabá neste estado.

“Recentemente, uma das coisas que impactou bastante a gente lá foi a perda de uma menina de 16 anos que apresentava sintomas de um tumor cerebral e a gente não conseguiu fazer ressonância, não conseguiu um neurologista para ela, só nos últimos dias, quando a coisa agravou muito rápido, que a gente conseguiu interná-la numa UPA e de lá foi para o HMC e ali morreu […] O que me trouxe aqui é dizer que nunca nesses quase 30 anos de serviço público a Saúde esteve tão ruim, com falta de tudo, falta de estrutura, com falta de medicação, com falta de especialistas”.

Além dos casos descritos, a reportagem do tem noticiado com frequência queixas de pacientes que relaram falta de medicamentos, profissionais, testes de covid e longa espera nas unidades de saúde. As reclamações são encaminhadas por meio do Mande seu whats.

Por meio de nota a Prefeitura de Cuiabá afirmou que está apurando a situação. Reconheceu a falta de medicamentos, mas alegou que este é um problema que ocorre no país todo. Também disse que “tem apurado já há algum tempo várias condutas e posturas de profissionais por práticas de conduta vedada”.

Leia a nota na íntegra:

A Secretaria Municipal de Saúde – SMS esclarece:

-Está apurando as denúncias supostamente feitas por médicos relacionadas às unidades de saúde do município. Se os profissionais tinham conhecimento de irregularidades, deveriam ter comunicado diretamente à gestão da SMS, por meio do diretor técnico da unidade ou Ouvidoria.

-Falta de medicamentos como dipirona de fato aconteceu, mas não foi exclusividade de Cuiabá, foi no país inteiro. Mas o que faltou foi a dipirona comprimido, usada para dispensação aos pacientes. A dipirona injetável, utilizada em unidades de urgência/emergência e em hospitais não faltou em momento algum.

-Causa estranheza à gestão da SMS que médicos da Atenção Básica relatem casos de mortes de pacientes por falta de medicamentos ou por falta de exames de alta complexidade, como a ressonância citada na denúncia, uma vez que pacientes graves não são atendidos nas unidades básicas de saúde (os chamados “postinhos”) e estas unidades não têm fluxo para solicitar esse tipo de exame.

-A SMS tem apurado já há algum tempo várias condutas e posturas de profissionais por práticas de conduta vedada ao servidor público, como por exemplo, entrega de atestado falso, além de ter passado a cobrar com rigor a produtividade dos profissionais. Isso tem causado um grande descontentamento por parte destes profissionais.

-A Secretaria reconhece que existem vários problemas para serem solucionados, mas que está trabalhando incessantemente para solucioná-los o mais rápido possível.

 

VINICIUS MENDES

Gazeta Digital

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