Longe do ideal

TXAI SURUÍ

Retornamos da COP28 com o acordo de Dubai. Longe de ser o suficiente é, ainda assim, inédito. Pela primeira vez os países membros incluíram no texto final a necessidade de uma transição energética para o fim dos combustíveis fósseis, principal agravador do aquecimento.

 

O documento final está longe de ser um compromisso forte, mas coloca pressão nos países sobre o tema. Os países precisam reduzir nesta década suas emissões de gases de efeito estufa para alcançar o objetivo de limitar o aumento em 1,5ºC na temperatura do planeta. Resta saber se o compromisso assumido será posto em prática.

 

O Brasil, que era promessa de liderança ambiental na conferência, sai com uma imagem ruim por entrar na Opep+ e, um dia após o fim do encontro, realizar o chamado “leilão do fim do mundo”, oferecendo 21 blocos de petróleo e gás na Amazônia. Com isso, aumenta, em vez de diminuir, a exploração de combustíveis fósseis, impactando terras indígenas, comunidades tradicionais e unidades de conservação.

O Brasil, que era promessa de liderança ambiental na conferência, sai com uma imagem ruim por entrar na Opep+

Os povos indígenas e as comunidades tradicionais são essenciais na construção das soluções para a crise climática. Nossos territórios e conhecimentos são solução para a emergência que vivemos.

 

 

“Corremos muito mais perigo neste momento do que a maioria das pessoas imagina”, foram as palavras de Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA. De fato, alguns ainda não entenderam o momento atual.

 

Num programa jornalístico em que se debatia a derrubada pelo Congresso dos vetos do presidente Lula ao projeto de marco temporal, um dos participantes, apoiador da tese, esbravejava: “Marco temporal não tem conversa, é assunto indiscutível”.

 

Nossos territórios continuam cobiçados. O Congresso, em novo ataque, volta com o marco temporal em lei, assunto já decidido como inconstitucional pelo STF. A demarcação das terras indígenas é direito originário e cláusula pétrea. Mas hoje nossa luta é planetária.

 

Mais de 80% das florestas são protegidas pelos povos originários. Territórios indígenas são ativos para mitigar a crise do clima e garantir um futuro para a humanidade. Então em benefício de quem legislam deputados e senadores senão por sua ganância? A quem beneficia a exploração de nossas terras e nosso genocídio?

 

Não são os pequenos produtores que ganham com isso, não somos nós, povos indígenas, não são as mulheres e jovens, nem os desfavorecidos e vulneráveis, tampouco o planeta e o clima.

 

Os beneficiários são os que invadiram nossas terras, lucram com nossas vidas há tempos e têm o poder do capital para ditar as regras, ainda que isso vá no sentido contrário ao que precisa ser feito para garantir um futuro para as próximas gerações.

 

Txai Suruí é coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

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