Ipês e árvores frutíferas viram símbolos de conciliação em Tangará

As visitas ao sítio da tia, sempre tão boas e alegres para a trabalhadora Arieli Felix da Silva, serão ainda melhores daqui para frente. Lá ela vai plantar a muda de Ipê Roxo que ganhou nessa quarta (21) no Fórum Trabalhista de Tangará da Serra, a 250km de Cuiabá (MT), após firmar um acordo com o antigo patrão.

Além de encerrar o processo que envolvia reconhecimento de vínculo e estabilidade provisória da gestante, a conciliação pacificou o caso. A entrega da muda da árvore nativa da região marcou o lançamento do projeto Cultivar a Paz, cujo objetivo é sedimentar a cultura de pacificação dos conflitos e estimular a preservação do meio ambiente.

Idealizado pela juíza da 2ª Vara de Tangará da Serra, Claudirene Ribeiro, o projeto nasceu da junção de duas paixões da magistrada: a questão ambiental, surgida quando cursava sua primeira graduação, em geografia, e o prazer de ajudar a solucionar conflitos trabalhistas por meio da conciliação. “Quando você cultiva uma planta, você se envolve. E ao se envolver, dedica cuidado. E a ideia da conciliação também parte dessa necessidade de cuidado de uma pessoa para com a outra, da necessidade de empatia”, explica Claudirene.

O projeto busca estimular acordos e a preservação do meio ambiente entre trabalhadores, empregadores e advogados. Mas não quer permanecer apenas aí. A ideia é que ele “vá se adaptando às necessidades do município e da região”, detalha a juíza.

Futuramente, o desejo é que cada acordo resulte diretamente no plantio de uma muda, ajudando a recuperar áreas desmatadas e criando um ‘bosque da paz’, formado por árvores plantadas para celebrar cada conciliação firmada na Justiça do Trabalho da cidade.

O juiz da 1ª Vara de Tangará da Serra, Mauro Vaz Curvo, abraçou a proposta e também se tornou parceiro na implementação do Cultivar a Paz. Com isso, a expectativa é que ao menos 70 mudas sejam distribuídas todos os meses às partes que fizerem a composição amigável em processos judiciais nas varas da cidade.

Além da relevância social, o magistrado lembra que o projeto se alinha à Agenda 2030 da ONU, em especial por estimular o desenvolvimento sustentável, tanto do ponto de vista econômico, como social e ambiental. “Nós, magistrados, somos agentes de pacificação social e esse projeto busca isso, incentivar a resolver os conflitos por meio do diálogo, da transparência, da ética”, ressalta.

Parceria

O Cultivar a Paz é realizado em parceria com o Município de Tangará da Serra, que faz o repasse das mudas de espécies nativas da região, como o Ipê e árvores frutíferas cultivadas no viveiro da cidade. O prefeito Vander Alberto Masson esteve no lançamento nessa quarta (21) e parabenizou o Fórum Trabalhista pela iniciativa. Ele também acredita que o impacto irá além da educação ambiental ao ajudar a reflorestar áreas da cidade, principalmente córregos urbanos. “Precisamos conciliar o nosso crescimento e desenvolvimento econômico com a preservação ambiental”, disse.

Humberto Zanini, empresário que solucionou a desavença com a trabalhadora Arieli Felix da Silva, diz ter ficado feliz em poder colocar um ponto final no processo. A muda de Ipê que levou terá um lugar especial em sua casa. Para ele, plantar a árvore é pensar no futuro, tanto do ponto de vista da preservação do meio ambiente quanto de resolver o caso trabalhista. “A ideia é essa. É cultivar a Paz”.

Além dele e da ex-empregada, as advogadas Regina de Oliveira e Camila Peron, que os representaram na audiência, também foram agraciadas com mudas frutíferas. Camila Peron, que integra a Comissão de Direito Ambiental da subseção da OAB-MT, elogiou, em nome da entidade, a iniciativa da justiça trabalhista.

Cultivar a Paz

Ao homologar o acordo, a juíza Claudirene Ribeiro destacou que o empresário e a trabalhadora assumiram as rédeas do caso para resolver em definitivo o conflito. Segundo ela, a entrega das mudas vai além do simbolismo. “A ideia não é apenas fazer o acordo, mas que saiam daqui com a sensação de paz, de que conseguiram fazer o melhor que podiam naquele momento. A paz é algo que exige cuidado e com a planta é a mesma coisa. Se você não cuidar, ela vai morrer!”, destacou.

Para além da questão trabalhista, o desejo é que as partes envolvidas passem a olhar a vida com responsabilidade. “Toda vez que vocês olharem para a planta, lembrem-se também de olhar ao seu redor aquilo que você pode melhorar no sentido de pacificar e de sensibilizar com as demais pessoas”, finalizou a juíza.

Outros processos

Dois outros acordos também foram firmados no contexto do lançamento do projeto Cultivar a Paz, ambos com a participação das partes rés nos processos de forma telepresencial (videoconferência). Presente fisicamente nas audiências, o advogado Odacir Cavalheiro representou duas trabalhadoras que ajuizaram ações contra seus antigos empregadores. Ele também foi agraciado com uma muda de árvore.

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