Idioma raro de Mato Grosso tem 54 vogais e apenas 189 falantes

Foto: (BORELA, 2002, p.150)

Com informação: vgnoticias

Uma pesquisa recente revelou a existência de um idioma raro no Mato Grosso, falado por apenas 189 pessoas. Esse idioma, pertencente à Família Linguística Nambikwara, chama a atenção não apenas pela sua pequena quantidade de falantes, mas também por sua complexidade fonética extraordinária. Enquanto o português possui apenas 12 vogais, o idioma Katitãuhlu conta com impressionantes 54 vogais.

O artigo “Descrição Preliminar dos Sons Fonéticos das Vogais Katitãuhlu dos Anusu Sararé” fornece detalhes sobre esse idioma. Em maio de 2023, o falecimento de um ancião e de um jovem falante de Katitãuhlu reduziu o número de pessoas que dominam a língua para apenas 189.

O povo Katitãuhlu vive no estado de Mato Grosso, com suas aldeias localizadas nos municípios de Conquista D’Oeste, Vila Bela da Santíssima Trindade e Nova Lacerda. Atualmente, a etnia possui seis aldeias. Antes dos óbitos registrados em maio, havia 191 habitantes nessas aldeias, de acordo com o Censo da Secretaria de Saúde Indígena de 2022.

Os Katitãuhlu se autodenominam “anũsu” ou “anũa,” termos que significam “povo” ou “pessoa” na sua língua ancestral. Eles também utilizam o termo “kajadisu” ou “kajada” para se referir às pessoas não indígenas, palavra que significa “milho” em português. Eles habitam as Terras Indígenas Sararé e Paukalirajausu, sendo que esta última ainda não foi demarcada.

Complexidade Fonética do Katitãuhlu
O estudo descreve a diversidade fonética única do Katitãuhlu, com vogais classificadas em diversas categorias, como orais, orais prolongadas, nasais, nasais prolongadas, laringais e combinações dessas características. Essa diversidade é registrada no Alfabeto Fonético Internacional (IPA) e inclui variações tonais, como alto, baixo, crescente e decrescente.

“O Katitãuhlu apresenta uma estrutura fonética extremamente complexa, com uma vasta gama de vogais orais e nasais, laringais e suas variantes prolongadas,” afirma Sérgio Beck de Oliveira, um dos pesquisadores. “Essa complexidade é crucial não apenas do ponto de vista linguístico, mas também para a preservação da cultura dos falantes.”

Desafios e Preservação Cultural
A pesquisa também destaca os desafios enfrentados pelos falantes do Katitãuhlu, incluindo a questão da demarcação de terras. O território Paukalirajausu, onde vive o povo Katitãuhlu, ainda não foi oficialmente demarcado, gerando conflitos e dificultando a preservação cultural e linguística.

“A demarcação de terras é essencial para a sobrevivência cultural dos Katitãuhlu,” explica Wellington Pedrosa Quintino. “Documentar e compreender a língua é um passo crucial para apoiar a preservação de sua identidade cultural.”

Pesquisas Futuras
O estudo indica a necessidade de pesquisas adicionais para explorar outras características fonéticas, como vogais orais e nasais pós-aspiradas e pós-nasalizadas, que podem não ter sido completamente capturadas nesta pesquisa inicial.

“Este trabalho é apenas o começo,” ressalta Oliveira. “Há muitas nuances a serem descobertas e documentadas, e esperamos que futuras pesquisas possam ampliar nosso conhecimento sobre essa língua rica e complexa.”

A documentação e análise do Katitãuhlu não só enriquecem o campo da linguística, mas também são fundamentais para a preservação cultural dos povos indígenas. À medida que as pesquisas progridem, espera-se que mais informações sobre o idioma venham à tona, contribuindo para a valorização e proteção do patrimônio linguístico dos Katitãuhlu.

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