Atrativo cultural de Cuiabá

O turismo cultural, isto é, aquele fundamentado em atrativos culturais, é pouco desenvolvido em Cuiabá, embora seu potencial histórico, artístico, arqueológico, étnico e paisagístico seja significativo.

 

A história do município tem 304 anos, desde sua fundação como Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá, em 1719, quando sua importância nacional para a fronteira do País se consolidou, além do desenvolvimento da atividade econômica do garimpo de ouro, que lhe conferiu relevância nacional.

 

Cuiabá materializou-se no que se conhece hoje como Centro Histórico, região onde se apresenta arquitetura colonial implantada a partir das bandeiras paulistas e responde pela maior concentração nacional de casarios construídos seguindo o sistema ’taipa de pilão”, e fica localizado no centro da capital, com as suas ruas tortas e improvisadas, tal qual, quando da sua fundação, com algumas pequenas mudanças.

 

O tombamento federal do Centro Histórico de Cuiabá formaliza a importância cultural desse bem, com o consequente potencial de atração turística. O potencial do patrimônio edificado e paisagístico de Cuiabá não pode ser reconhecido de forma segmentada como atrativos em um museu. Necessita ser dinâmico. Daí a importância da sua ressignificação.

 

Os atrativos culturais de Cuiabá são melhor compreendidos em sua plenitude, a partir de uma visão histórica de sua formação que articula, por meio de rotas e caminhos específicos, onde toda a arte cênica está estruturada com os valores identitários da população. Assim, de modo geral, os atrativos culturais em Cuiabá estão ligados ao patrimônio urbanístico e arquitetônico, da cidade. Esses caminhos e essas rotas necessitam ser criados e reconhecidos.

 

Cuiabá se destaca também pelas manifestações folclóricas como o siriri, o cururu, boi-à-serra e o rasqueado. Outras manifestações importantes da cultura popular são a Festa do Senhor Divino, São Benedito, do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, entre outras, as artes plásticas, a culinária cuiabana e a música regional embora não tenham se enquadrado na relação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (2012) como bens imateriais de reconhecida relevância para a Cultura Cuiabana, à época.

 

Há, ainda, patrimônios arqueológicos registrados pelo IPHAN, mas que não são necessariamente atrativos turísticos culturais a ser explorado. Em Cuiabá, existem oito registros de sítios arqueológicos, ressalta-se, contudo, que são registros e não tombamentos do patrimônio arqueológico, não sendo possível precisar quais são as condições deles.

 

O Centro Histórico de Cuiabá, reúne cerca de 400 imóveis em sua área tombada aproximadamente 1.000 nas áreas de entorno. O conjunto histórico tem como o seu marco a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, que emana os ciclos da ocupação: de um lado o Córrego da Prainha e do outro a paisagem do Parque Antônio Pires de Campos. Em diferentes setores, abriga o conjunto urbanístico e arquitetônico (Fonte: IPHAN/MT).

 

A implantação do casario do Centro tem um traçado próprio, que agrada o visitante que se percorrer suas vias, ruelas, travessas e escadarias ou se deter em suas praças e largos contemplando a continuidade das casas ora em taipa e ora em adobe. Esse cenário arquitetônico tem uma morfologia própria e uma historicidade plena que se consolidou a partir de várias influências e estilos arquitetônicos: colonial jesuítico; neoclássico; ecletismo; neocolonial; art-déco; e arquitetura modernista, como no Prédio da Prefeitura e em diversas inserções contemporâneas.

 

A riqueza deste conjunto urbanístico e arquitetônico justificou a presença de Cuiabá entre as 44 cidades que fizeram parte da 1ª seleção do PAC-Cidades Históricas. Por isso, entre 2010 e 2011, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Superintendência Mato Grosso (IPHAN/MT), por meio da consultoria contratada, e em colaboração do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano (IPDU) promoveu oficinas com a sociedade organizada para definição do Plano PAC-Cidades Históricas para as áreas de interesse Histórico de Cuiabá, principalmente o Centro Antigo.

 

A fiscalização do IPHAN é complementada pela atuação da Prefeitura Municipal de Cuiabá, ambas com estrutura bem enxuta, dificultando em muito a realização do planejamento e gestão do Centro Antigo, verificado nas condições precárias dos muitos casarões, dos calçados – trechos isolados -, e a própria dinâmica das atividades, em sua maioria, restritas ao horário comercial. É o que consta em estudo da época.

 

É necessário voltar às atividades de planejamento urbano da cidade. O IPDU sumiu. O Centro Histórico necessita urgentemente de gestão. As rusgas precisam acabar para que Cuiabá se apresente linda para os turistas e para os cuiabanos e mato-grossenses.

 

Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews.

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