Artesão Mantém Tradição Da Viola De Cocho E Ensina Futuras Gerações

Foto: Reprodução

Com informação: gazetadigital

Uma viola de cocho é feita à mão por um artesão, levando cerca de 10 dias para ser concluída, desde a seleção da madeira até o acabamento final. A técnica de fabricação da viola de cocho se adapta aos novos materiais disponíveis, mas o trabalho manual continua sendo essencial para que esse instrumento permaneça vivo e conte um pouco da história de Cuiabá. Alcides Ribeiro é um artesão com mais de 30 anos de experiência e é reconhecido como Mestre da Cultura Popular do Estado de Mato Grosso. O seu conhecimento na arte do entalhe é herdado de sua família, tanto do lado paterno quanto materno. Seu pai, Caetano Ribeiro, era funcionário público e não se dedicava ao artesanato como meio de sustento, mas transmitiu seu conhecimento, que já se estende por mais de três gerações.

Mestre Alcides já percorreu o Brasil e outros países, sendo reconhecido por seu trabalho artesanal, e realizou o sonho de abrir o Museu da Viola de Cocho, que tem como objetivo mostrar o instrumento criado por diversos artistas. Ele, que compreende profundamente as diferentes maneiras de produzir, achou injusto que muitos artesãos, alguns já falecidos, fossem esquecidos, e viu a necessidade de ter um espaço dedicado a essas pessoas. O Museu está localizado em Santo Antônio do Leverger (34 km ao sul de Cuiabá) e foi inaugurado em 2021. Além das violas de cocho, o museu exibe outros instrumentos utilizados por ribeirinhos e pantaneiros. A visitação é gratuita e o museu funciona de terça a domingo, das 08h às 18h, com horário agendado. Mais informações podem ser encontradas na página do Instagram.

Não só a viola de cocho é reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial brasileiro, mas também a técnica de fabricação do instrumento recebe destaque no país e no estado, que também abriga a dança tradicional siriri, acompanhada por outros instrumentos como o ganzá. O artesanato é a principal fonte de renda não apenas para Mestre Alcides, mas também para sua família. A produção de um único instrumento leva cerca de 10 dias, sendo a parte mais demorada o processo de secagem da madeira. “Para eu terminar, leva em média de 8 a 15 dias. A produção é feita com madeira verde, requer entalhe, escavação e exposição ao sol. O tempo mais longo é para a secagem, e depois disso, começo a trabalhar com a plaina manual e a parte frontal”, explicou ele. Após esses processos, o instrumento ainda passa pela preparação do “corpo”, colocação do tampo, lixamento, acabamento e, por último, a colocação das cordas. Embora a viola de cocho seja o principal produto, Alcides também trabalha com outros instrumentos da cultura pantaneira e ribeirinha.

No Museu da Viola de Cocho, localizado em Santo Antônio do Leverger, também estão expostos gamelas, que são recipientes usados para guardar e temperar alimentos, canoas de cocho e violas em miniatura que servem como lembranças. O museu recebe visitantes de outros estados e até de outros países, mas Mestre Alcides mencionou que a cultura mato-grossense ainda carece de visibilidade e valorização. Ele observa que, muitas vezes, os próprios cuiabanos desconhecem sua história. “Nos momentos de lazer, os ribeirinhos tocavam a viola de cocho, que era sua forma de entretenimento. Naquela época, a viola não enfrentava tanta concorrência com instrumentos eletrônicos e, atualmente, entre outros instrumentos, quase desapareceu.

Foi o interesse de pesquisadores e pessoas de fora que ajudou a valorizar o instrumento, despertando a consciência do povo sobre seu valor. Hoje, músicos de várias partes do país compram viola de cocho aqui”, afirmou ele. O Mestre também ressaltou que ainda sente a falta de apoio e reconhecimento para os artesãos. O Museu da Viola de Cocho ainda precisa ser finalizado e, mesmo com todo o reconhecimento que já recebeu, ele enfrenta dificuldades. Alcides já ministrou oficinas para ensinar o artesanato a outras pessoas, além de ensinar seu filho e iniciar seu neto na cultura. Enquanto viver, ele se dedicará a manter viva a tradição e perpetuar o legado. “Além de dar aulas, tenho alguns alunos que considero meus discípulos. Meu filho e minha família me ajudam a produzir também as violas menores. E meu neto, embora ainda jovem, estou apostando que ele dará continuidade. Para mim, manter essa tradição enquanto eu estiver vivo é fundamental”, concluiu.

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