Ambulantes haitianos fazem desabafo após confusão e “confisco” de produtos

O casal de haitianos, Odius Derval e Chrisna Dalce, estão em Cuiabá há 10 anos e já passaram por várias situações de ofensas nas ruas, mas nada parecido ao serem retirados à força no Centro Histórico na capital, nesta quarta-feira (29). Agentes da prefeitura e policiais fizeram uso da força para retirar as mercadorias deles da calçada e geraram uma confusão generalizada.

As imagens da operação rodaram as redes sociais e geraram revolta. Segundo a secretaria de Ordem Pública do município, a venda de produtos na calçada acontece de forma irregular e a polícia foi chamada para dar apoio aos agentes da prefeitura.

Segundo Odius, no momento da apreensão, os agentes chegaram e apenas retiraram os produtos da calçada, sem nenhuma explicação ao casal.

“Eu não quero mais passar por isso. Quero ficar em paz. Como vamos ficar tranquilos se as pessoas falam para a gente procurar outro lugar para trabalhar, mas sempre mentem para a gente?”, indagou.

De acordo com ele, outras fiscalizações já haviam acontecido, mas não daquela forma.

“Minha esposa estava sangrando. Ela passou mal e depois levamos ao pronto-socorro. Eles não falaram nada. Só pegaram a mercadoria. Vieram para cima da gente”, contou.

Na quinta-feira (30), um grupo de manifestantes se reuniu em frente à Prefeitura de Cuiabá para cobrar respeito aos haitianos e aos demais vendedores ambulantes. (Veja vídeo abaixo).

Entenda o caso

A Polícia Militar e a Secretaria de Ordem Pública da capital realizaram na quarta-feira (29) uma ação de retirada de vendedores ambulantes da Rua 13 de Junho, no Centro de Cuiabá. Segundo vídeos publicados nas redes sociais, Chrisna subiu na caçamba do carro da prefeitura na tentativa de recuperar os produtos que vendia na rua.

A população tentou ajudar a pegar os pertences dela e do marido, mas a polícia fez uso da força para contê-los, o que despertou ainda mais indignação.

Então, o carro da prefeitura deu a partida e saiu do local, com ela do lado da carroceria junto com os produtos apreendidos.

Ao g1, a secretaria de Ordem Pública havia negado, em nota, a permissão da operação e disse que determinou uma investigação interna de imediato para adotar as medidas administrativas aos responsáveis.

No entanto, na quinta-feira (30), o secretário da pasta, Leovaldo Sales, afirmou que havia permitido a execução da operação e solicitado acompanhamento da Polícia Militar.

Segundo a secretaria, a ação de fiscalização cumpriu o papel de apreender produtos vendidos de forma irregular no centro da capital. Houve um desentendimento entre os comerciantes e os agentes durante a fiscalização e desencadeou a confusão registrada em vídeos nas redes sociais.

De acordo com o comandante da Polícia Militar, Wancley Rodrigues, a área não permite a comercialização de produtos nas calçadas para não atrapalhar os pedestres. Ele também explicou porque os policiais usaram a força com o casal de comerciantes haitianos.

“Houve a resistência de comerciantes irregulares durante a ação dos agentes da prefeitura e foi preciso o uso da força na condução deles para acalmar a região. A maioria das pessoas foram autuadas e deixaram o local, porque ali é uma área irregular. Porém, ninguém saiu ferido”, afirmou.

O secretário Leovaldo contou que a pasta tem uma operação de desobstrução das vias públicas desde o ano passado. Ele salientou que foi a primeira vez que uma das fiscalizações terminou em confusão.

“Desde o ano passado estamos realizando a desobstrução das calçadas usadas por aqueles ambulantes, onde usam o espaço público para a prática comercial. Não tivemos nenhum incidente, apenas neste caso que teve a desobediência de uma comerciante ambulante, que se recusou a sair do local e obedecer a ordem da fiscalização”, disse.

Segundo o secretário, a comerciante escolheu ser levada na carroceria da caminhonete, junto com os produtos apreendidos.

“Ela ficou na carroceria por vontade própria junto com a mercadoria. Ela não queria sair. Ela se recusou a ir na viatura policial ou na parte interna da caminhonete. Foi a opção dela”, contou.

De acordo com ele, a concorrência entre os ambulantes e os lojistas acaba sendo injusta, porque apenas os empresários pagam impostos e têm certificação de qualidade com os produtos.

“Eles vendem de uma maneira irregular e concorrem com empresários que pagam impostos, pagam salários, aluguel e tributa. E eles não pagam nada ao poder público e não se sabe a certificação de qualidade da mercadoria. A Ordem Pública vai continuar no Centro Histórico, mas não para terminar da forma com que terminou aquela ocorrência”, disse.

G1-MT

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