A saga do Museu Histórico do Estado de Mato Grosso; fechado há anos, despesa quadriplica e abertura é incerta

Mariana da Silva – Especial para o GD
redacao@gazetadigital.com.br

Luiz Leite

Luiz Leite
Apesar do fácil acesso geográfico, o Museu Histórico do Estado de Mato Grosso, no Centro de Cuiabá e próximo à Igreja Matriz, tem estado cada vez mais distante da população da Capital ano após ano. O equipamento cultural está de portas fechadas para visitação há mais de 8 anos, com promessas de abertura que não se concretizam. O motivo da interdição é uma reforma no espaço, que foi anunciada em setembro de 2019, quando já se encontrava fechado.

 

À época, a expectativa era de que a manutenção durasse dois meses, com investimento no valor de R$ 180 mil e entrega em novembro do mesmo ano. A obra incluia melhorias do telhado, tratamento do madeiramento do prédio, substituição total da parte elétrica, manutenção das calhas, otimização dos banheiros e pintura. Contudo, não foi concluída até o momento.

 

Luiz Leite
Museu Histórico de Mato Grosso

Importância histórica

A edificação com inspiração arquitetônica no estilo neoclássico, fica localizada ao lado do Palácio da Instrução, na Praça da República, Centro Histórico de Cuiabá. Sua construção começou no ano de 1896, sob o governo de Antônio Corrêa da Costa, o então presidente do Estado de Mato Grosso.

 

Antes de virar museu, no local funcionava o edifício do Thesouro do Estado, cujo prédio foi inaugurado em 1898, sob o governo do coronel Antônio Cesário de Figueiredo, para abrigar a Thesouraria Provincial (Contadoria Provincial) de Mato Grosso. O imóvel foi tombado pelo Estado em 1983, sob Portaria n° 03/83 e já abrigou a Biblioteca Pública Estadual, a Secretaria de Educação e Cultura, a Escola Barão de Melgaço e a Secretaria de Estado de Turismo.

 

A estudante de Direito Geliane Andrade, 37, que trabalha perto do local, afirma que nunca viu o museu aberto e por isso nunca o visitou. “Nunca vim, nem passa pela cabeça”, diz. Para ela, seria bom que o museu fosse reaberto para que os jovens conhecessem a cultura e história da Capital e do estado. “Aqui tem muito ponto turístico que fechou para reformar e nunca mais voltou a ser reabilitado”, afirma.

 

O mesmo é dito pela atendente Anicleide Saraiva, 41, que trabalha a poucos metros do local. “Eu só sei que é museu porque trabalho aqui perto. Eu nunca entrei lá. É triste que esteja fechado porque aqui nem as escolas podem fazer visitações. Quando elas vêm com estudantes aqui na região central não têm o que visitar, só a catedral e a biblioteca”, lamenta.

 

Para o historiador Aníbal Alencastro, que foi diretor do museu entre os anos de 2008 a 2010, a sociedade perde muito com um espaço fechado por tanto tempo.

 

“Ali tem tanta coisa, não poderia ser extinto dessa forma. O museu conta muita história para nós, é uma sala de aula. Ali o aluno aprende muita coisa, sabendo de toda nossa história, que é tão rica. Eu fico triste porque foi um período tão bom, a gente ensinava tanto para alunos e visitantes. Quem vinha para Cuiabá a primeira coisa que fazia era ir ao Museu do Estado”, recorda.

 

Acervo de Anibal Alencastro
museu histórico de mato grosso antigamente

Aos 80 anos, o estudioso ainda guarda o catálogo informativo com fotos antigas de como era o museu quando estava aberto e relembra que durante sua passagem pelo local havia agendamentos escolares toda semana, visitas intensas de estudantes com professores, turistas e guias turísticos, moradores locais, além de palestras e exibição de filmes de época.

 

O acervo ficava dividido em salas em períodos históricos de Mato Grosso. Havia grande acervo fotográfico e artístico no local, canhões, espadas, documentos, pianos, móveis, cédulas, moedas, medalhas, mapas e demais itens que contam a história do estado.

“O museu é uma sala de aula prática, principalmente para estudantes, é ali que eles vão ver objetos e documentos antigos da época. Faz muita falta. Vale a pena reabilitar o museu de novo. Ali é um ponto central de Cuiabá e o centro já é um museu aberto com seus prédios antigos, então tem que voltar a funcionar, são monumentos importantes. Tem uma história muito forte, precisa ser reativado”, apela.

 

Linha do tempo da reforma

Em setembro de 2021, como foi noticiado pelo à época, o projeto seguia parado. A Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel/MT) foi procurada naquele momento e informou que a reforma do Museu Histórico de Mato Grosso teve início em 2019, mas precisou ser paralisada porque o contrato terminou sem que todos os serviços fossem concluídos.

 

Ainda em 2021, ocorria o processo de adesão a uma ata de manutenção predial para conclusão da reforma, contudo, sem datas previstas para a retomada e entrega da obra.

 

Em fevereiro de 2023, foi informado ao que o prazo estimado para finalização das obras era para o primeiro semestre do mesmo ano. Por conta da fase de montagem da expografia, que é a concepção de como o conteúdo histórico será apresentado ao público, ainda não havia uma data definida para reinauguração do prédio.

 

Mariana da Silva
Museu Histórico do Estado de Mato Grosso

Até aquele ano, o valor investido no local já passava de R$ 800 mil, segundo a Secel. Dentre os serviços para conservação do museu estavam a recuperação da cobertura, revitalização do piso, novo sistema de climatização, atualização das instalações elétricas, pintura, recuperação das esquadrias e adequação à acessibilidade.

A secretaria disse ainda que a data de inauguração do museu seria definida assim que, pelo menos, a primeira fase de manutenção fosse finalizada.

 

Previsão de reabertura em 2024

Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT) informou que a previsão de conclusão da reforma do Museu Histórico de MT é para o mês de junho deste ano e que os itens históricos estão preservados e armazenados na reserva técnica do próprio museu.

 

Confira nota na íntegra:

A reinauguração do Museu Histórico será definida assim que a reforma do prédio do Antigo Thesouro do Estado for finalizada. A previsão que a obra seja concluída no mês de junho. Os itens históricos estão preservados e ficam armazenados na Reserva Técnica do próprio Museu.

 

A ampla reforma pela qual passa o prédio visa a modernização do espaço, com diversos serviços que incluem adequação à acessibilidade no local, um novo sistema de climatização e adequação do sistema de prevenção e combate a incêndio e pânico.

 

Dentre os serviços executados estão a recuperação da cobertura com troca do telhado e instalação de manta de proteção, atualização das instalações elétricas, e recuperação da fachada. Atualmente se encontram em andamento os trabalhos de reforma da cobertura e dos banheiros, e instalação de equipamentos de ar condicionado na nova rede frigorígena. Além disso, serão ainda executadas as obras de acessibilidade, instalação de grama sintética no átrio, revitalização de piso, pintura interna e reparo de esquadrias.

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